Hotel da loucura | Entrevista – Daniel Satin
00Imagem – Aline Capobianco
O espetáculo circense Fumaça – Puro Visaje permanece em temporada até 18 de agosto no Sesc Copacabana, com sessões de quinta a domingo sempre às 19h.
Com humor cínico e sarcástico, o artista colombiano Daniel Satin propõe desafiar as percepções convencionais da realidade e explorar os conceitos e limites associados à loucura. A montagem mistura técnicas do teatro físico, bufonaria e cabaré, incluindo números de palhaçaria, ilusionismo, escapismo e manipulação de objetos.
Para falar um pouco mais sobre o processo de criação do espetáculo, o artista Daniel Satin conversou com o co-editor chefe do Quarta Parede, Márcio Andrade.
A inspiração inicial para criar o espetáculo “Fumaça – Puro Visaje” partiu de uma experiência no Hotel e Spa da Loucura. Como você chegou a esse espaço e de que forma ela influenciou a criação do espetáculo?
Foi no Hotel e Spa da Loucura que me inspirei para criar a última cena do espetáculo, uma cena de escapismo. Durante algumas noites, ouvi um paciente gritando dos andares de cima, pedindo socorro e libertação. Esses gritos me levaram a criar a cena de escape! No entanto, já vinha criando outras cenas desde 2014, que também estão no espetáculo. Cheguei ao Hotel da Loucura em 2016 por intermédio da ESLIPA.
A Escola Livre de Palhaços fazia uma parceria com o hotel, e nós, palhaços, dormíamos lá durante a semana de estudos, além de realizarmos atividades de troca com os hóspedes. No final da semana, todos voltavam para seus estados e casas. Como eu vinha da Colômbia, não tinha como voltar todo mês, então pedi para ficar permanentemente no Hotel da Loucura!
O espetáculo combina variadas referências em linguagens como teatro físico, bufonaria, cabaré, palhaçaria, ilusionismo e escapismo. Quais foram os principais interesses e desafios que vocês atravessaram nessa combinação em uma única performance?
O desafio foi ter calma e paciência para ver como misturar essas técnicas e criar algo coeso! Sei que algumas dessas técnicas são mais evidentes e protagonistas no produto final do que outras, mas meu processo de criação também envolve meu desenvolvimento como artista e pessoa. Estudei essas técnicas em cursos com mestres específicos, em diferentes países e épocas. Cada nova habilidade que aprendia, eu procurava incorporar em minha criação. Foram 10 anos de trabalho; em cada curso e laboratório de criação, levava ideias que conseguia costurar a outras.
Sabia que queria ter um espetáculo para salas de teatro, mas também sabia que era um processo longo. Especificamente na palhaçaria, ilusionismo e escapismo foram técnicas que aprendi no mundo do circo, junto com malabares e outras que não utilizo no espetáculo. O teatro físico foi o resultado de uma escola em Buenos Aires, a Cabuia, em 2011, que modificou minha expressão física e poética. Aprendi sobre máscaras, desde a larvária até a expressiva, finalizando com o nariz do palhaço. Com outros mestres, descobri minha paixão pelo mundo do bufão, que considero o “irmão maldito” do palhaço.
O cabaré é baseado na construção de personagens. Em 2023, me formei como diretor de teatro na SP Escola de Teatro, e foi ali que senti que, depois de tantos anos de estudo e criação, finalmente poderia apresentar meu espetáculo
Na sua trajetória, você teve encontros com mestres como Leo Bassi, Jango Edwards e Chacovachi. Quais aprendizados você vem incorporando nas suas abordagens da palhaçaria e no teatro físico?
Tenho influência de muitos mestres, inclusive aqui do Brasil! Mas desses três que você mencionou, aprendi muitas coisas diferentes em cada encontro que tive com cada um deles. Vou destacar algumas lições que levarei para a vida toda:
Léo Bassi: A única tradição que existe é fazer rir!
Jango: É melhor pedir desculpas do que pedir autorização!
Chaco: A única improvisação que serve é aquela que você consegue repetir!
Há muito mais, mas ficaria falando por horas (risos)